Ao acompanhar as histórias que marcaram a formação do povo hebraico e o desenvolvimento do Judaísmo, constata-se que sua fixação em Canaã representou processo de ocupação de região já habitada por outros povos.
Esses grupos, cujas raízes remontam a séculos anteriores à chegada dos Hebreus, desenvolveram culturas, tradições e modos de vida próprios, que se mantêm em parte até os dias de hoje.
Paralelamente, o surgimento do Islamismo, no século VII, consolidou novas comunidades na mesma região, estabelecendo presença histórica significativa que atravessa séculos de mudanças políticas e sociais.
O entrelaçamento dessas trajetórias, marcado por conquistas, migrações e convivências complexas, criou paisagens históricas em que múltiplos direitos e memórias se sobrepõem, quando se chega ao século XX, com a criação do Estado de Israel e a história revelando novo capítulo de disputas territoriais.
A ocupação e consolidação de fronteiras muitas vezes desconsideraram a continuidade histórica dos povos que já habitavam a região, especialmente os descendentes daqueles que, por séculos, mantiveram sua vida naquilo que hoje é chamado Palestina.
Reconhecer que esses povos têm raízes profundas e contínuas no território é compreender a lógica de que sua aspiração a um Estado próprio não é apenas política, mas também histórica.
Este texto, e os seguintes, não pretendem impor conclusões, mas orientar o leitor a examinar a história. Os fatos demonstram que são relevantes e devem ser considerados os direitos históricos, de quem já estava na terra antes de processos de colonização ou migração.
A reflexão crítica sobre esses eventos convida a formar opinião consciente acerca da justa reivindicação de um Estado Palestino, observando que a história, em muitos aspectos, sustenta a legitimidade dessa demanda.
Em breves relatos, conheça as histórias desses importantes povos.
O ÊXODO HEBREU
O Êxodo Hebreu, tem como base tradições bíblicas, apoiadas parcialmente por estudos históricos e arqueológicos. A tradição bíblica não fornece data absoluta para seu início.
Os estudiosos divergem quanto à sua historicidade e cronologia. Considerando tentativas de conciliar textos bíblicos com registros históricos conhecidos, existem duas hipóteses principais para seu início, após período de escravidão no Egito.
Êxodo Hebreu (c. século XIII a.C.)
Segundo a tradição, liderados por Moisés os hebreus deixaram o Egito por volta de 1446 a.C. Entretanto, historiadores também relatam a possibilidade dessa data ser em torno de 1250 a.C. O episódio é conhecido como Êxodo. Não há consenso arqueológico sobre sua dimensão histórica, mas é central na identidade judaica.
Peregrinação no deserto (c. 40 anos)
Após a saída, os hebreus vagaram pelo deserto do Sinai, onde, segundo a narrativa bíblica, receberam a Lei – Torá – no Monte Sinai.
Chegada a Canaã (c. 1200 a.C.)
Sob a liderança de Josué, os hebreus entraram na região que consideraram como Canaã, onde se estabeleceram em territórios que correspondiam aos atuais sul de Israel, Cisjordânia e parte da Faixa de Gaza. Para ali se estabelecerem e conviverem entraram em conflito bélicos com os povos que habitavam a região, incluindo principalmente filisteus, cananeus, amorreus, jebuseus e hititas, tidos como possíveis ascendentes dos atuais palestinos.
- O nome “Palestina” deriva de “Filisteus”, mas os palestinos atuais não descendem historicamente dos Filisteus, e sim de longa mesclagem de povos da região, com predominância árabe, a partir do século VII.
Conflitos em Canaã e Divisão das Terras (c. 1200 a.C.)
Na chegada à Terra Prometida, os hebreus travaram sucessivos combates contra os povos já estabelecidos, incluindo filisteus, cananeus, amorreus, jebuseus e hititas. As vitórias, atribuídas à liderança de Josué, permitiram a conquista gradual de territórios estratégicos, embora nem todas as cidades tenham sido dominadas de imediato.
Com os sucessos militares dos Hebreus, as terras conquistadas foram divididas entre as doze tribos de Israel, cada uma recebendo sua porção para uso, posse, povoamento e administração. Essa distribuição consolidou a presença hebraica na região, ainda que marcada por conflitos constantes com os povos remanescentes e vizinhos.
Período dos Juízes (c. 1200–1000 a.C.)
Foi fase sem unidade política hebraica central. O povo hebreu vivia em tribos independentes, governadas ocasionalmente por líderes chamados juízes. Houve constantes disputas com povos vizinhos, especialmente os filisteus.
Monarquia Unida (c. 1000–930 a.C.)
- Saul: primeiro rei dos hebreus, enfrentou os filisteus.
- Davi: sucedeu a Saul, consolidou o reino, conquistou Jerusalém e fez dela a capital.
- Salomão: filho de Davi, fortaleceu o reino e construiu o Primeiro Templo em Jerusalém.
Divisão do Reino (c. 930 a.C.)
Após Salomão, o reino dividiu-se em Israel (norte) e Judá (sul). Essa divisão enfraqueceu os hebreus diante de potências estrangeiras.
Conflitos com Impérios e Queda (séculos VIII–VI a.C.)
- 722 a.C.: O reino do norte – Israel – foi conquistado pelos assírios.
- 586 a.C.: O reino do sul – Judá – foi destruído pelos babilônios; Jerusalém e o Primeiro Templo foram arrasados; iniciou-se o Exílio da Babilônia.
O chamado Exílio da Babilônia foi um dos acontecimentos mais marcantes da história do povo hebreu/judeu.
Em 586 a.C., o Império Babilônico, sob o rei Nabucodonosor II, conquistou o Reino de Judá, destruiu Jerusalém e incendiou o Primeiro Templo, centro religioso e político dos hebreus. Como consequência, grande parte da população, sobretudo a elite política, religiosa, militar e intelectual, foi deportada para a Babilônia.
Esse exílio durou cerca de 50 anos e teve consequências profundas:
- Perda da terra e do templo
O povo judeu viu-se sem sua cidade sagrada e sem o lugar central de culto, o que forçou uma reorganização espiritual e comunitária. - Fortalecimento do monoteísmo
No exílio, as tradições religiosas foram reforçadas e preservadas. Muitos estudiosos entendem que nesse período se consolidou a identidade judaica baseada na Torá e na sinagoga como lugar de oração e estudo. - Produção e organização de textos sagrados
A necessidade de manter viva a memória levou à compilação e redação de partes importantes das Escrituras hebraicas. - Retorno e reconstrução
Em 539 a.C., quando os persas, liderados por Ciro, o Grande, conquistaram a Babilônia, foi permitido aos judeus retornarem a Jerusalém. Esse retorno possibilitou a reconstrução do Templo, o chamado Segundo Templo, inaugurado em 516 a.C.
Em resumo: o Exílio da Babilônia (586–539 a.C.) foi período de deportação e cativeiro dos judeus na Babilônia, após a destruição de Jerusalém, e marcou definitivamente a formação da identidade religiosa e cultural do judaísmo.
Assim, do Êxodo (c. século XIII a.C.) até a fixação em Canaã, e os primeiros séculos de vida hebraica organizada, até a destruição de Judá em 586 a.C., percorre-se marco histórico religioso que fundamenta a identidade judaica: libertação, promessa, conquista da Terra Prometida, unidade política e queda diante das potências imperiais.
PERÍODO DE TRANSIÇÃO
Entre a História Hebraica e o Surgimento do Islã
Após a fixação dos hebreus em Canaã e os primeiros séculos de vida organizada sob reinos e tribos, a região do antigo Israel e da Palestina passou por sucessivos domínios imperiais, que moldaram a história local.
Em 586 a.C., a destruição de Jerusalém e do Primeiro Templo pelos babilônios marcou o início do Exílio da Babilônia. Pouco depois, em 539 a.C., os persas conquistaram a Babilônia e permitiram o retorno dos judeus a Jerusalém, onde foi reconstruído o Templo, dando início ao chamado Período do Segundo Templo.
No século IV a.C., a região caiu sob domínio de Alexandre, o Grande, que difundiu a cultura helenística. Após sua morte, a Palestina ficou sob disputas entre os reinos helenísticos, levando a tensões religiosas que culminaram na Revolta dos Macabeus (c. 167 a.C.), responsável por restabelecer temporariamente a autonomia judaica no Reino Hasmoneu.
Em 63 a.C., o general romano Pompeu anexou a Judeia ao Império Romano. Nos séculos seguintes, a Palestina tornou-se província romana, em palco de constantes rebeliões judaicas contra o domínio estrangeiro.
A mais marcante foi a Grande Revolta Judaica (66–73 d.C.), que resultou na destruição de Jerusalém e do Segundo Templo em 70 d.C. Já em 132–135 d.C., a Revolta de Bar Kokhba foi brutalmente reprimida, levando o imperador Adriano a renomear a região como Síria-Palestina, de onde deriva o nome “Palestina”.
Nos séculos seguintes, a região permaneceu sob domínio romano e, mais tarde, bizantino, período em que o cristianismo surgiu e se espalhou. Jesus de Nazaré viveu e pregou na Judeia, c. 4 a.C.–30 d.C. -, e o cristianismo, nascido como vertente judaica, tornou-se religião oficial do Império Romano no século IV d.C.
Assim, quando o Islã surgiu no século VII d.C., a Palestina era parte do Império Bizantino, majoritariamente cristão, mas marcada por longa história de sucessivos domínios imperiais, destruições, reconstruções, rebeliões e pela presença contínua do povo judeu, que preservava sua fé apesar das adversidades.
Esse período pode ser considerado como uma ponte natural, entre a trajetória hebraica após Canaã, atravessando os grandes impérios que dominaram a região, destacando o surgimento do cristianismo e preparando o terreno para o surgimento e desenvolvimento do Islã no século VII.
O ISLÃ E MUÇULMANOS
Segue resumo da história do Islã e dos muçulmanos, com ênfase nos acontecimentos históricos principais, incluindo conflitos relevantes até a atualidade.
Origem do Islã (c. 610 d.C.)
O Islã surge na Península Arábica, quando Maomé – Muhammad -, em Meca, afirma receber revelações do anjo Gabriel. Essas mensagens, reunidas no Alcorão, estabelecem o monoteísmo absoluto e a nova fé islâmica.
Hégira (622 d.C.)
Perseguido em Meca, Maomé migra para Medina, no episódio conhecido como Hégira, que marca o início do calendário islâmico. Em poucos anos, unifica politicamente e religiosamente as tribos árabes.
Expansão Islâmica (séculos VII–VIII)
Após a morte de Maomé, em 632, os califas sucedem sua liderança. Em menos de um século, o Islã expande-se rapidamente, conquistando vastos territórios: Península Arábica, Oriente Médio, Norte da África, Pérsia e parte da Península Ibérica.
Califados e Cultura (séculos VIII–XIII)
Sob os califados Omíada e Abássida, o Islã floresce como potência política e cultural, com centros em Damasco e Bagdá. Aconteceram avanços em ciência, filosofia, medicina e artes marcando o período.
Conflitos com Bizantinos e Cruzadas (séculos XI–XIII)
As Cruzadas, a partir de 1095, representaram choques militares entre cristãos europeus e muçulmanos, pelo controle de Jerusalém e da Terra Santa. Lideranças como Saladino destacam-se na defesa muçulmana.
Confrontos com Mongóis e Ascensão Otomana (séculos XIII–XVI)
A invasão mongol – século XIII – destrói Bagdá – 1258. Posteriormente, o Império Otomano emerge como principal potência islâmica, conquistando Constantinopla, em 1453, transformando-a em Istambul.
Dominação Otomana no Oriente Médio (séculos XVI–XIX)
O Império Otomano domina a Palestina, Jerusalém e grande parte do mundo árabe até o século XX. Judeus e cristãos viviam sob domínio otomano em condição de tolerância restrita.
Declínio Otomano e Mandatos Europeus (século XX)
Após a Primeira Guerra Mundial – 1914-1918 -, o Império Otomano é desmantelado. A Palestina passa ao controle britânico, enquanto várias regiões árabes ficam sob mandatos europeus.
Criação de Israel e Conflitos (1948 em diante)
Com a fundação de Israel em 1948, inicia-se a série de guerras árabe-israelenses.
- 1948–49: Primeira guerra árabe-israelense.
- 1967: Guerra dos Seis Dias, Israel conquista Jerusalém Oriental, Cisjordânia e Gaza.
- 1973: Guerra do Yom Kippur.
Esses conflitos marcaram profundamente as relações entre judeus e muçulmanos na região.
Guerras e Tensões Contemporâneas (séculos XX–XXI)
A partir da segunda metade do século XX, o Oriente Médio vive sucessivas guerras, insurgências e tensões:
- Conflitos israelo-palestinos permanentes.
- Guerras civis e sectárias em países como Líbano, Síria e Iraque.
- Ascensão de grupos islâmicos radicais – Al-Qaeda e Estado Islâmico – no final do século XX e início do XXI.
O Islã Atual (século XXI)
O Islã é hoje a segunda maior religião do planeta, com mais de 1,8 bilhão de fiéis. Está dividido principalmente entre sunitas, cerca de 85%, e xiitas. Permanece central na política e cultura do Oriente Médio, além de ser presença crescente em todas as regiões do globo.
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ISRAEL E PALESTINA – POLÊMICA INJUSTA
SONHAR AO INFINITO – POR QUE NÃO?
Fontes; pesquisas virtuais.
Paulo Dirceu Dias
paulodias@pdias.com.br
Sorocaba – SP
31/08/2025