Voo 2283 da VoePass Cai Em Vinhedo SP

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Com base nas informações já divulgadas e considerando que as investigações ainda estão em curso, segue o que é possível relatar sobre o acidente com a aeronave ATR 72 500, prefixo PS VPB, da VoePass, ocorrido em 9 de agosto de 2024, cujo relatório preliminar do CENIPA foi publicado em 6 de setembro de 2024.

Contexto e ocorrência

  • A aeronave operava o voo 2283, entre Cascavel, PR, e Guarulhos, SP, com 61 pessoas a bordo, 58 passageiros e 4 tripulantes.
  • Caiu no município de Vinhedo, SP, por volta das 13h22, horário de Brasília, resultando em 62 vítimas fatais, todos os ocupantes.

Investigação preliminar do CENIPA

  • As caixas-pretas, FDR e CVR, foram recuperadas e analisadas com sucesso.
  • Comunicadores na cabine indicaram a presença de condições severas de gelo, e o copiloto relatou haver “bastante gelo” pouco antes da queda. Os detectores de gelo foram ativados durante o voo.
  • O sistema airframe, de-icing, foi ligado e desligado diversas vezes durante o voo, atitude que despertou atenção dos investigadores como possível contribuição para a perda de sustentação.
  • O avião entrou em atitude de voo anormal, com inclinações abruptas, entrando em parafuso-chato. Girando várias vezes antes do impacto confirmou-se rotação de até 180° e cinco voltas completas antes da queda.

Possíveis fatores contribuintes

Formação de gelo – ICING

  • As condições meteorológicas apresentavam boa umidade e temperaturas abaixo de 0 °C, favorecendo acúmulo de gelo nas asas, da camada central do Paraná até São Paulo, em altitudes entre FL120 e FL140, chegando ao topo da massa frontal no FL230.
  • A hipótese mais consistente até o momento é de falha do sistema de degelo somada à continuação do voo em condições adversas, mesmo após alertas internos do avião.

Fator material e histórico da aeronave

  • A aeronave PS‑VPB passou por incidentes anteriores: sofreu um strike na cauda em 11 de março, tendo ficado em manutenção até fim de março. Retornou à operação em julho, mas apresentou despressurização no mesmo dia e voltou a passar por conserto até 13 de julho. Em 8 de agosto fez mais uma manutenção de rotina antes do voo trágico.
  • Ex-funcionários relataram histórico de falhas hidráulicas e improvisos em sistemas anti-icing, como o uso de palitos para reparos, indicando potenciais problemas na gestão de manutenção da empresa.

Fatores humanos e operacionais

  • A tripulação contava com piloto e copiloto experientes, com mais de 5.000 horas de voo, devidamente certificados e treinados para operação em gelo. Ainda assim, não houve declaração de emergência nem relato formal de condições adversas ao controle aéreo.
  • A investigação seguirá três linhas principais: humanos (performance da tripulação), material (condição técnica e sistemas anti-icing) e operacional (decisões e ambiente de voo).

O que se sabe e o que ainda falta

Sabe‑se:

  • Existirem condições de gelo severo, com o sistema anti-icing sendo ativado repetidamente;
  • A aeronave entrar em parafuso-chato, indicando perda de controle total;
  • A tripulação ter percebido dificuldades, mas sem ação decisiva ou emergência declarada.

Ainda incerto:

  • Se houve falha técnica específica no sistema de degelo ou falha de manutenção;
  • Porque a tripulação não evitou condições de gelo ou reagiu adequadamente aos alertas;
  • O papel da gestão da empresa VoePass e eventuais inspeções pendentes na manutenção.

Importância e impactos

  • O acidente foi o sexto mais letal da aviação no Brasil, e primeiro fatal envolvendo ATR‑72 em solo brasileiro.
  • A EASA, autoridade europeia, emitiu nova diretiva de aeronavegabilidade em janeiro de 2025, reduzindo os intervalos de inspeção dos componentes do sistema de degelo em aeronaves ATR após o acidente.
  • O Congresso Nacional criou uma comissão especial de acompanhamento, prevista para atuar até dezembro de 2024, com relatório final até fevereiro de 2025.
  • A ANAC suspendeu cautelarmente as operações da VoePass em março de 2025 e, em junho, cassou seu certificado de operação – COA – definitivamente, com base na constatação de não conformidades operacionais e estruturais.

Conclusão provisória

Ainda sem causa conclusiva, o relatório preliminar do CENIPA aponta gelo severo e possível falha do sistema anti-icing, conduzindo à perda de controle da aeronave e a entrada em parafuso.

Investigadores enfatizam que múltiplos fatores, técnicos, humanos e organizacionais, devem ser analisados antes da conclusão final.

Assim que o relatório final for publicado, espera-se que sejam apresentadas as causas contribuintes, eventuais erros operacionais ou de manutenção, e recomendações de segurança para evitar acidentes semelhantes no futuro.

Fontes; pesquisas virtuais.

Paulo Dirceu Dias
paulodias@pdias.com.br
Sorocaba – SP
21/07/2025

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