DC-10 Pousa Sem Um Motor e Sem Sistema Hidráulico

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O caso do voo United Airlines 232, ocorrido em 19 de julho de 1989, é amplamente reconhecido como um dos episódios mais extraordinários da aviação, onde um desastre quase certo foi transformado em milagre parcial, graças à habilidade e coragem da tripulação.

Mesmo diante de falha catastrófica total do sistema hidráulico, que deixou o avião virtualmente incontrolável, os pilotos conseguiram realizar um pouso de emergência que salvou mais da metade das pessoas a bordo.

Resumo do acontecimento

O voo 232 era operado por um McDonnell Douglas DC-10, partindo de Denver, Colorado, para Chicago, Illinois, com 296 pessoas a bordo, 285 passageiros e 11 tripulantes.

Cerca de uma hora após a decolagem, a aeronave sofreu a explosão do motor número 2, localizado na cauda. Fragmentos da explosão danificaram severamente as linhas hidráulicas que alimentavam os três sistemas hidráulicos redundantes do avião, algo que teoricamente era considerado impossível de acontecer.

Perda total dos controles

Sem pressão hidráulica, todos os comandos de voo convencionais falharam: os pilotos perderam controle de leme, profundor, ailerons, flaps e spoilers.

O avião passou a voar de maneira errática, com tendência a girar descontroladamente e perder altitude.

O comandante Alfred “Al” Haynes, o primeiro-oficial William Records, e o engenheiro de voo Dudley Dvorak tentaram, sem sucesso, reverter a situação pelos métodos normais.

Foi então que surgiu uma solução inesperada: usar os dois motores restantes, um em cada asa, para controlar o avião por meio de variações assimétricas de potência, procedimento não treinado nem documentado até então.

A ajuda decisiva de um instrutor extra a bordo

Coincidentemente, estava a bordo como passageiro um instrutor de DC-10 da United, Dennis Fitch, que foi chamado à cabine e passou a ajudar os pilotos, atuando como “operador de motores” para compensar a falta de controles aerodinâmicos.

Essa colaboração foi crucial para manter o avião em uma trajetória minimamente controlada.

Tentativa de pouso em Sioux City

Sem condições de alcançar um aeroporto maior, os pilotos direcionaram a aeronave para o aeroporto regional de Sioux City, Iowa. O avião vinha descendo em curva contínua, instável, com altitude caindo rapidamente e sem precisão de alinhamento.

Às 16h00, o DC-10 tocou a pista a alta velocidade, com inclinação e sem flaps. Um dos trens de pouso colapsou, uma asa tocou o solo, o avião explodiu e se partiu em vários pedaços, com chamas e destroços espalhados pela pista e arredores.

Milagre parcial: 185 sobreviventes

Apesar da violência do impacto, 185 pessoas sobreviveram, um número considerado inacreditável pelas condições extremas. A evacuação foi rápida e bem coordenada pelos comissários, e o resgate foi eficiente.

Causas técnicas

A investigação concluiu que a explosão do motor número 2 foi causada por uma trinca não detectada em um disco de titânio do ventilador, uma falha de fabricação que gerou fragmentação violenta.

Os fragmentos atingiram todas as três linhas hidráulicas redundantes, situadas próximas umas das outras, algo não previsto nos projetos originais.

Esse acidente levou a:

  • Reformulação no design de aeronaves quanto à separação física dos sistemas hidráulicos.
  • Revisão rigorosa de procedimentos de inspeção em motores.
  • Estudos aprofundados sobre como controlar aviões apenas com potência dos motores, posteriormente integrados ao treinamento de pilotos.

Reconhecimento e legado

  • A tripulação foi amplamente homenageada, com destaque para o comandante Al Haynes, cuja liderança e serenidade foram exemplares.
  • Dennis Fitch, o instrutor voluntário, tornou-se símbolo de cooperação e improviso técnico, mesmo vindo a falecer anos depois por câncer.
  • O acidente foi retratado em documentários, livros e no episódio “Deadly Silence” da série “Mayday” – Desastres Aéreos.

Conclusão

O caso do voo United 232 é considerado um feito técnico e humano sem precedentes, onde o impossível foi desafiado com bravura.

Apesar da tragédia, tornou-se exemplo mundial de como treinamento, improviso técnico e colaboração sob extrema pressão podem fazer a diferença entre o desastre absoluto e a chance de sobrevivência.

Fontes; pesquisas virtuais.

Paulo Dirceu Dias
paulodias@pdias.com.br
Sorocaba – SP
21/07/2025

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