O trágico acidente ocorrido em 22 de março de 1994, envolvendo o voo Aeroflot 593, é um dos episódios mais chocantes e absurdos da aviação comercial.
Um Airbus A310, operado pela Aeroflot e fretado pela sua subsidiária internacional Aeroflot-Russian International Airlines, caiu na Sibéria após o comandante permitir que seu filho de 15 anos assumisse os controles da aeronave durante o voo.
O resultado foi a morte de todas as 75 pessoas a bordo.
Resumo do acontecimento
O voo partiu de Moscou com destino a Hong Kong, com 63 passageiros e 12 tripulantes. A aeronave era um Airbus A310-300, um jato moderno fornecido recentemente à Aeroflot como parte da modernização da frota após a dissolução da União Soviética.
O comandante do voo, Yaroslav Kudrinsky, era experiente, com mais de 8.000 horas de voo, e havia sido piloto de aviões soviéticos antes de ser treinado para operar o Airbus. Como gesto de cortesia, levou seus dois filhos a bordo na cabine de comando, prática informal e não permitida pelas normas da aviação comercial.
A decisão fatal
Durante o voo, enquanto o avião sobrevoava a Sibéria em piloto automático, o comandante permitiu que seu filho de 15 anos, Eldar Kudrinsky, se sentasse no assento do piloto e “brincasse” com os controles. Inicialmente, a ideia era que ele mexesse nos comandos levemente, sem causar impacto real na condução da aeronave.
No entanto, o garoto aplicou força suficiente no manche para desativar parcialmente o piloto automático, sem que os pilotos percebessem imediatamente.
Com o sistema parcialmente desengajado, o avião começou a inclinar e sair da rota de forma sutil, mas progressivamente mais grave. A tripulação não percebeu o desligamento parcial e acreditou que o piloto automático ainda estava no controle.
Perda de controle total
Quando perceberam a situação anormal, o copiloto e o comandante tentaram recuperar o controle manualmente, mas já era tarde. A aeronave entrou em espiral descendente, girando rapidamente e perdendo altitude.
Houve uma breve recuperação, mas o avião perdeu novamente estabilidade e colidiu com o solo a mais de 700 km/h, em uma região montanhosa e remota da Sibéria.
Todos os 75 ocupantes morreram instantaneamente.
Investigação e descobertas
A investigação foi conduzida por autoridades russas com apoio da Airbus e revelou os seguintes pontos críticos:
- O piloto automático foi parcialmente desativado sem indicação clara nos instrumentos, o que confundiu os pilotos.
- A Airbus A310 possuía características de automação pouco familiares para pilotos acostumados com aviões soviéticos.
- A presença de civis na cabine e o uso dos controles por uma criança violavam totalmente os protocolos internacionais de segurança.
- A atuação do copiloto foi lenta e confusa, e o tempo de reação da tripulação foi insuficiente para retomar o controle.
Consequências e mudanças
- O acidente teve enorme repercussão internacional e afetou a imagem da Aeroflot, que já estava sob pressão para se modernizar.
- Regulamentações sobre acesso à cabine de comando foram reforçadas, e políticas rígidas contra presença de não tripulantes passaram a ser aplicadas de forma mais severa em todo o planeta.
- O caso serviu como alerta para a importância da cultura de segurança operacional, além da obediência estrita aos protocolos de cabine.
Curiosidades e repercussão
- O gravador de voz da cabine captou as conversas entre o comandante e seus filhos, incluindo o momento em que o filho pergunta se poderia “pilotar um pouco”.
- O caso foi retratado em documentários, inclusive na série “Mayday” – Desastres Aéreos, no episódio “Criança no Comando” – “Kid in the Cockpit”.
- Tornou-se exemplo extremo de negligência e quebra de protocolo, frequentemente citado em treinamentos de segurança e gerenciamento de cabine.
Conclusão
O voo Aeroflot 593 representa tragédia evitável causada por imprudência, negligência e falha humana grave.
Ao permitir que seu filho manipulasse os comandos de uma aeronave comercial, o comandante violou o princípio básico da aviação: a responsabilidade irrestrita pela segurança das vidas a bordo.
O desastre reforçou de maneira trágica a importância de seguir rigorosamente os procedimentos operacionais, independentemente da experiência ou intenção da tripulação.
Fontes; pesquisas virtuais.
Paulo Dirceu Dias
paulodias@pdias.com.br
Sorocaba – SP
21/07/2025