Luiz Inácio Lula da Silva, Lula, nasceu em 27 de outubro de 1945, em Caetés, município que na época pertencia a Garanhuns, em Pernambuco.
Vindo de família humilde do interior nordestino, era o sétimo de oito filhos de Aristides Inácio da Silva e Eurídice Ferreira de Melo. Ainda criança, vivenciou a realidade dura da pobreza, agravada pela seca, o que levou sua família, como tantas outras, a migrar para São Paulo em busca de melhores condições de vida.
Esse deslocamento fez parte do grande fluxo migratório de nordestinos rumo ao Sudeste nas décadas de 1950 e 1960.
Em São Paulo, a vida não foi fácil. Lula trabalhou como engraxate e vendedor ambulante, ajudando no sustento da família. Aos 14 anos começou a trabalhar em uma metalúrgica e, pouco depois, se matriculou no curso de tornearia mecânica no SENAI, um dos caminhos possíveis para jovens de baixa renda alcançarem um ofício.
Tornou-se torneiro mecânico e passou a viver o cotidiano das fábricas do ABC paulista, região industrial que se consolidaria como berço da luta sindical que marcaria sua trajetória. Nesse ambiente, conviveu de perto com as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores, como baixos salários, jornadas exaustivas e condições precárias.
Nos anos 1970, em plena ditadura militar, Lula já estava inserido no movimento sindical e rapidamente ganhou destaque. Em 1975 foi eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema.
Seu estilo de liderança, combativo e próximo da base, fez crescer sua popularidade. Organizou grandes greves, sobretudo em 1978, 1979 e 1980, que desafiaram frontalmente o regime autoritário, chamando a atenção da opinião pública nacional e internacional. Essas greves mostraram a força da mobilização operária, mas também resultaram em repressão, prisão e perseguição a Lula e a outros dirigentes sindicais. Esse período consolidou sua imagem como líder popular.
A partir dessas experiências, Lula percebeu que a luta sindical não era suficiente para transformar a realidade política e social do país. Em 1980, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), que surgiu como alternativa de esquerda, defendendo democracia, justiça social e maior participação popular.
Nesse mesmo ano, ajudou a criar a Central Única dos Trabalhadores (CUT), reforçando a ligação entre sindicatos e política. Essa atuação marcou a transição de Lula de sindicalista a líder político.
Na política, sua trajetória foi construída a partir de sucessivas candidaturas à Presidência da República. Em 1989, disputou a primeira eleição direta para presidente após a ditadura. Chegou ao segundo turno contra Fernando Collor de Mello, mas foi derrotado. Essa derrota, porém, não interrompeu seu caminho: voltou a se candidatar em 1994 e 1998, perdendo em ambas para Fernando Henrique Cardoso, em contexto de estabilidade econômica trazida pelo Plano Real, que fortaleceu o adversário.
Persistente, Lula continuou se fortalecendo politicamente e, em 2002, venceu a eleição presidencial, derrotando José Serra. Assumiu em 2003, tornando-se o primeiro operário e ex-sindicalista a ocupar a presidência do Brasil.
Seu governo foi marcado por políticas sociais de grande alcance, como o Bolsa Família, programas de incentivo à educação e valorização do salário mínimo. Essas medidas contribuíram para a redução da pobreza e da desigualdade, ao mesmo tempo em que buscava manter estabilidade econômica.
Lula foi reeleito em 2006, vencendo Geraldo Alckmin, e em seu segundo mandato ampliou programas sociais e promoveu o crescimento econômico, impulsionado também pelo cenário internacional favorável. Ao final de oito anos de governo, deixou o cargo com altos índices de aprovação.
No entanto, seu partido e aliados políticos se envolveram em escândalos de corrupção, como o Mensalão e, mais tarde, a Operação Lava Jato. Lula passou a ser alvo de investigações.
Lula enfrentou processos em duas ações da Operação Lava Jato, no caso do tríplex do Guarujá (SP) e no caso do sítio de Atibaia (SP). Julgado, foi condenado à penas que, somadas, chegaram a aproximadamente 21 anos e 9 meses de prisão.
Permaneceu preso em Curitiba por 580 dias – cerca de 1 ano e 7 meses. Em novembro de 2019 foi solto por decisão do STF, que mudou seu entendimento sobre a prisão, em julgamento de segunda instância. Mais tarde, em 2021, o STF anulou essas condenações.
Na época sua prisão o impediu de disputar as eleições daquele ano, vencidas por Jair Bolsonaro. No entanto, em 2021, o Supremo Tribunal Federal anulou as condenações, reconhecendo que a Vara Federal de Curitiba não tinha competência legal para julgar os casos, e apontando parcialidade do então juiz Sergio Moro. Com a anulação, Lula recuperou seus direitos políticos.
Em 2022, Lula candidatou-se novamente e venceu Jair Bolsonaro em eleição polarizada, assumindo em 1º de janeiro de 2023 como 39º presidente do Brasil, em seu terceiro mandato.
O retorno marcou momento simbólico da história política nacional, com Lula voltando ao poder após prisão e anulação de condenações, em meio a ambiente de forte divisão política e social.
Seu governo atual enfrenta desafios como a reconstrução de políticas sociais, a recomposição das instituições democráticas, a busca por crescimento econômico sustentável e o enfrentamento de crises ambientais, como a proteção da Amazônia.
A história de Lula é de personagem singular no cenário brasileiro: de origem pobre, migrante nordestino, trabalhador manual, sindicalista, criador de partido político, perseguido e preso, depois presidente por três vezes.
Seus feitos e controvérsias caminham lado a lado, sendo aclamado por muitos como símbolo de ascensão popular, e criticado por outros pelos escândalos políticos associados ao seu partido. Independentemente da posição, sua trajetória representa uma das mais marcantes e impactantes da história do Brasil contemporâneo.
O retorno às atividades políticas
Em 2021, após a anulação de suas condenações pelo Supremo Tribunal Federal, Lula recuperou seus direitos políticos e voltou ao cenário eleitoral como pré-candidato.
Ainda em 2021 e ao longo de 2022, iniciou articulações para construir uma frente ampla capaz de enfrentar Jair Bolsonaro. Essa articulação resultou na aliança com Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo e antigo adversário político, que se filiou ao PSB e foi confirmado como candidato a vice-presidente na chapa.
Em 2022, a campanha presidencial foi marcada por forte polarização. Lula buscou destacar seus governos anteriores, enfatizando avanços sociais, redução da pobreza e crescimento econômico, ao mesmo tempo em que criticava a condução da pandemia de Covid-19 e a postura de Bolsonaro em relação à democracia.
O período foi tenso, com episódios de violência política e grande mobilização nas ruas e nas redes sociais. A disputa ganhou caráter simbólico entre continuidade do bolsonarismo e retorno do lulismo.
No primeiro turno, realizado em 2 de outubro de 2022, Lula obteve 48,43% dos votos válidos contra 43,20% de Bolsonaro, levando a eleição para o segundo turno.
Em 30 de outubro de 2022, Lula foi eleito com 50,9% dos votos, totalizando mais de 60 milhões de eleitores. A vitória marcou o retorno de um ex-presidente ao cargo após cumprir dois mandatos e passar por prisão, um feito inédito na história política brasileira.
A posse ocorreu em 1º de janeiro de 2023, em cerimônia tradicional em Brasília. O evento teve grande presença popular e de representantes estrangeiros, destacando o prestígio internacional de Lula. Pela primeira vez na história recente, o presidente eleito não recebeu a faixa presidencial do antecessor, pois Jair Bolsonaro havia viajado para os Estados Unidos dois dias antes. A faixa foi entregue por representantes da sociedade civil, simbolizando o compromisso democrático e a superação de divisões políticas.
Poucos dias depois da posse, em 8 de janeiro de 2023, ocorreu o ataque às sedes dos Três Poderes em Brasília, quando grupos radicais bolsonaristas invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.
Esse episódio foi um dos primeiros grandes desafios do governo, obrigando Lula a adotar medidas firmes para garantir a ordem institucional. O governo federal decretou intervenção na segurança pública do Distrito Federal e mobilizou as Forças Armadas e a Polícia Federal para restabelecer a normalidade. A resposta institucional reforçou a importância da defesa da democracia e consolidou apoio entre o Judiciário, o Legislativo e a comunidade internacional.
Nos meses seguintes, o governo buscou recompor a agenda social e ambiental.
Foram recriados programas e ministérios extintos no governo anterior, como o Bolsa Família (reformulado), o Ministério da Cultura e o Ministério do Meio Ambiente, este sob liderança de Marina Silva.
Também houve foco no combate à fome, na valorização do salário mínimo e na retomada de investimentos em infraestrutura e habitação popular. Na política externa, Lula retomou papel ativo em organismos internacionais, defendendo o multilateralismo e a proteção ambiental, além de buscar reposicionar o Brasil como liderança regional e global.
No campo econômico, o governo apresentou novo arcabouço fiscal, substituindo o teto de gastos, com o objetivo de equilibrar responsabilidade fiscal e manutenção de programas sociais. Houve também esforços para aprovar a reforma tributária, pauta discutida há décadas, e que avançou com apoio do Congresso em 2023. A aprovação dessa reforma foi vista como uma das vitórias mais relevantes da gestão.
Até 2024 e 2025, Lula enfrentou desafios complexos. O governo buscou ampliar o diálogo com diferentes setores políticos para garantir governabilidade, em um Congresso com forte presença de partidos de centro e direita.
Questões como a segurança pública, o desmatamento ilegal na Amazônia, a transição energética e a tensão permanente com opositores ligados ao bolsonarismo marcaram o período. Apesar das dificuldades, o governo consolidou políticas sociais, reabriu canais internacionais de cooperação e procurou reduzir a polarização política, embora ainda permaneça como característica do cenário brasileiro.
Assim, a cronologia mais recente de Lula reflete trajetória de retorno e de reconstrução. Da recuperação de seus direitos políticos em 2021 à vitória em 2022, passando pela posse em 2023 e pelos acontecimentos críticos do início de seu terceiro mandato, sua figura continua central na política nacional.
Os episódios vividos mostram tanto a resiliência de sua liderança quanto os desafios constantes que enfrenta, em um Brasil marcado por crises políticas, sociais e econômicas, mas também por grandes expectativas em torno de seu governo.
Fontes; pesquisas virtuais.
Paulo Dirceu Dias
paulodias@pdias.com.br
Sorocaba – SP
11/09/2025