Jair Messias Bolsonaro nasceu em 21 de março de 1955, em Glicério, no interior de São Paulo, filho de família de origem modesta.
Passou parte da infância em cidades do interior paulista e, posteriormente, mudou-se para Eldorado, no Vale do Ribeira.
Desde jovem demonstrava interesse pela carreira militar, caminho que seguiu ao ingressar na Escola Preparatória de Cadetes do Exército em Campinas (SP), prosseguindo depois na Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ), onde se formou oficial em 1977, na arma de artilharia.
Na carreira militar, Bolsonaro atuou em unidades de artilharia de campanha e em grupos de paraquedismo. Durante esse período, sua trajetória foi marcada por episódios controversos.
Em meados da década de 1980, ganhou notoriedade dentro do Exército por críticas públicas à remuneração dos militares, publicadas em revista de circulação nacional. Militarmente esse ato foi considerado quebra de disciplina e lhe trouxe problemas internos.
Ainda no exército, em 1987 passou a ser investigado por suposta participação em plano para explodir bombas em unidades militares, como forma de protesto contra as condições salariais.
Essa ocorrência merece esclarecimento.
O episódio, que marcou negativamente a trajetória militar de Jair Bolsonaro, ficou conhecido como o “Caso da bomba nos quartéis” ou, em alguns registros, como o “Caso da revista Veja” (1987).
O acontecimento – Em 1987, a revista Veja publicou reportagem afirmando que Bolsonaro, então capitão do Exército, estaria envolvido em plano para detonar bombas em unidades militares no Rio de Janeiro, como forma de protesto contra os baixos salários pagos aos militares. O esquema teria sido revelado por um colega de farda. A revista chegou a apresentar croquis atribuídos a Bolsonaro. O episódio repercutiu intensamente, pois se tratava de acusação de indisciplina grave e até de terrorismo dentro do Exército.
O caso levou Bolsonaro a ser julgado pelo Superior Tribunal Militar – STM. Em 1988 o tribunal acabou absolvendo-o, alegando insuficiência de provas e fragilidade da acusação. Apesar da absolvição judicial, dentro da instituição militar o episódio comprometeu sua imagem, sendo visto por superiores como ato de indisciplina e insubordinação.
Pouco depois, Bolsonaro deixou o Exército, passando à condição de reformado. Esse desfecho, interpretado por alguns como resultado de acordo interno que encerrou sua vida ativa no Exército, é considerado um dos marcos da ruptura de Bolsonaro com a carreira militar, abrindo caminho para sua entrada na política.
Afastado da carreira militar, Bolsonaro entrou para a política no mesmo ano. Elegeu-se vereador no Rio de Janeiro em 1988, pelo Partido Democrata Cristão – PDC, aproveitando sua imagem de militar rígido e crítico da hierarquia superior, o que lhe garantiu notoriedade entre colegas e simpatizantes.
Em 1991, foi eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro, cargo que exerceu ininterruptamente por sete mandatos consecutivos até 2018, migrando por diferentes partidos políticos ao longo da trajetória.
No Congresso, destacou-se por discursos inflamados em defesa dos militares, da ditadura instalada em 1964 e de pautas conservadoras nos costumes, mas teve pouca participação em projetos legislativos de impacto nacional.
Suas propostas aprovadas foram poucas e de relevância limitada, mas sua figura ganhou espaço por declarações polêmicas e muitas vezes agressivas, que lhe renderam visibilidade midiática. Entre elas, estavam defesas abertas de torturadores do regime militar, críticas à democracia representativa e ataques a adversários políticos, além de manifestações preconceituosas contra mulheres, homossexuais e minorias.
A partir de 2014, com a crise política e econômica que atingia o país, Bolsonaro ganhou destaque como voz de oposição ao Partido dos Trabalhadores – PT, e às políticas progressistas.
Sua retórica de combate à corrupção, de valorização das forças armadas e de defesa de um moralismo rígido, passou a atrair segmentos sociais cansados da política tradicional.
Em 2018, capitalizando a insatisfação popular e beneficiado pelo uso intenso das redes sociais, Bolsonaro lançou-se candidato à Presidência da República pelo Partido Social Liberal – PSL. Sua candidatura cresceu rapidamente, sustentada em discursos contra o sistema político, em defesa de pautas conservadoras e no apoio de movimentos bolsonaristas organizados na internet.
Em 6 de setembro de 2018, durante ato de campanha em Juiz de Fora, Minas Gerais, o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro foi vítima de atentado, sendo gravemente ferido por uma facada no abdome, ataque que exigiu cirurgias de emergência e prolongada recuperação; o agressor, Adélio Bispo de Oliveira, foi preso em flagrante e declarado inimputável por doença mental, mas as motivações, possíveis mandantes e circunstâncias do crime permanecem envoltas em controvérsias e questionamentos, sem esclarecimento definitivo até hoje.
Em outubro de 2018 foi eleito presidente da República, com ampla margem de votos. Assumiu em janeiro de 2019, prometendo uma “nova política”, combate à corrupção, apoio às polícias e militares, e liberalismo econômico sob a condução de seu ministro da Economia, Paulo Guedes.
Entretanto, o governo Bolsonaro logo se mostrou conturbado. Seu estilo confrontador levou a choques com outros Poderes, governadores e imprensa. Sua gestão foi marcada por discurso constante contra instituições democráticas, como o STF – Supremo Tribunal Federal e o Congresso, e por incentivos a manifestações de viés autoritário.
Durante a pandemia de Covid-19, entre 2020 e 2022, Bolsonaro protagonizou uma das fases mais criticadas de sua administração: desestimulou medidas de isolamento, ironizou o uso de máscaras, desacreditou a vacinação e promoveu o uso de medicamentos sem eficácia comprovada, como a cloroquina e a ivermectina.
Essa postura contribuiu para demora na aquisição de vacinas, gerou grupos corruptos nas negociações de vacinas, e foi associada a agravamentos da crise sanitária, que deixou centenas de milhares de mortos no Brasil. De acordo com relatórios do Ministério da Saúde, e controles dos veículos de imprensa, no final de 2022 o total acumulado de mortes por Covid-19 no Brasil era de 693.853 óbitos.
Ao longo do mandato também surgiram diversas denúncias de irregularidades em seu governo, envolvendo familiares e aliados, como casos de “rachadinhas” em gabinetes políticos e graves suspeitas em negociações de vacinas.
No campo econômico o país enfrentou alta inflação, queda do poder de compra da população e dificuldades de crescimento, embora tenha havido avanços pontuais em privatizações e marcos regulatórios.
No cenário político Bolsonaro reforçou a polarização, apresentando-se como antagonista direto da esquerda, em especial do então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Suas falas frequentemente contestavam a legitimidade do processo eleitoral e ameaçavam a estabilidade institucional. Mesmo assim, manteve forte apoio de base popular fiel, formada por setores evangélicos, militares, empresários do agronegócio e grupos conservadores.
No dia 7 de setembro de 2021, durante os atos comemorativos da Independência, Jair Bolsonaro discursou em palanques montados em Brasília e São Paulo, adotando tom inflamado contra o Supremo Tribunal Federal.
Suas falas incluíram ataques diretos aos ministros da Corte, em especial a Alexandre de Moraes, a quem acusou de ultrapassar os limites constitucionais, também declarando abertamente que não respeitaria mais as decisões do ministro. As declarações foram amplamente interpretadas como ameaças à ordem democrática, gerando forte reação institucional e política, além de ampliar a polarização no país.
Ainda durante seu mandato, em 18 de julho de 2022, Bolsonaro protagonizou um dos episódios mais graves de ataque institucional. Convocou e realizou em espaço governamental uma reunião oficial com embaixadores estrangeiros no Brasil, representando dezenas de nações. Nesse encontro, apresentou acusações sem fundamentos contra o sistema eleitoral brasileiro, alegando, de forma mentirosa e sem provas, que as urnas eletrônicas seriam fraudáveis e que as eleições poderiam ser manipuladas.
A iniciativa gerou forte repercussão negativa, tanto nacional quanto internacional, vez que colocou em dúvida a lisura de processo reconhecido mundialmente como exemplarmente seguro e confiável.
- Posteriormente, em 2023, essa conduta foi considerada grave infração eleitoral e institucional, e o TSE – Tribunal Superior Eleitoral julgou e condenou Bolsonaro, declarando-o inelegível até o ano de 2030. Essa decisão marcou um dos principais desdobramentos jurídicos contra o ex-presidente, reforçando as consequências de seus ataques sistemáticos à democracia brasileira e dificultando seu futuro político.
Em 2 de outubro de 2022 e em 30 de outubro de 2022, dois turnos das eleições presidenciais seguintes, Bolsonaro foi derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva.
Em 12 de dezembro de 2022, dia da diplomação de Luiz Inácio Lula da Silva pelo Tribunal Superior Eleitoral, apoiadores de Jair Bolsonaro promoveram atos de violência em Brasília, com depredações e incêndio de veículos. Houve tentativa de invasão à sede da Polícia Federal, em protesto contra a prisão de um manifestante.
Poucos dias depois, em 24 de dezembro de 2022, a Polícia Militar do Distrito Federal frustrou atentado planejado por simpatizante radical, que havia colocado explosivos em um caminhão-tanque próximo ao Aeroporto Internacional de Brasília. O artefato foi desarmado antes da detonação, mas evidenciou o risco crescente da escalada de violência política na capital.
Com o resultado eleitoral Bolsonaro manteve silêncio por semanas e, no final de dezembro daquele ano, viajou para os Estados Unidos, evitando presença na posse do adversário.
Após a derrota eleitoral de 2022, formaram-se acampamentos de apoiadores de Jair Bolsonaro em frente a quartéis do Exército em diversas cidades, sobretudo em Brasília. Esses locais tornaram-se pontos de reunião, concentração e difusão de discursos radicais que contestavam o resultado das urnas e defendiam intervenção militar.
O movimento ganhou força até culminar, em 8 de janeiro de 2023, na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes na capital federal, em ato golpista sem precedentes desde a redemocratização do país,
Embora não tenha sido comprovado que Bolsonaro ordenou diretamente a ação, seus atos e discursos ao longo dos anos foram apontado como incentivadores do clima que levou ao ataque. Desde então, passou a responder a investigações sobre sua conduta, sobre possíveis tentativas de minar o processo eleitoral e sobre uso irregular da máquina pública.
Em julgamento concluído em junho de 2023, Bolsonaro foi sentenciado pelo TSE – Tribunal Superior Eleitoral, condenado por abusos de poder político e uso indevido dos meios oficiais de comunicação, tornando-o inelegível até 2030.
Atualmente, Bolsonaro encontra-se politicamente enfraquecido, novamente com direitos políticos ameaçados por decisões da Justiça, envolvido em múltiplos processos judiciais.
Seu legado divide opiniões: para uns, representa a resistência a mudanças sociais e políticas; para outros, é símbolo de retrocesso democrático, com negacionismo social, científico, educacional e ameaça às instituições.
Sua trajetória, desde os primeiros embates no Exército até a presidência e os desdobramentos recentes, deixa marcas profundas na história política brasileira, servindo como exemplo de como figuras polêmicas podem ascender em momentos de crise, também de como seus atos podem trazer duradouras péssimas consequências para a democracia e para o país.
JULGAMENTO E CONDENAÇÃO
Em julgamento de 11 de setembro de 2025, Jair Messias Bolsonaro foi condenado pela Primeira Turma do STF – Supremo Tribunal Federal, por cinco acusações, em processo sobre tentativa de golpe de Estado, por ações que teriam sido praticadas antes e depois das eleições de 2022.
Bolsonaro foi condenado por;
- Tentativa de golpe de Estado;
- Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
- Organização criminosa armada;
- Dano qualificado; e
- Deterioração de patrimônio tombado.
Somadas, a pena é de 27 anos e 3 meses de prisão, em regime inicial fechado.
O processo prossegue, por meio dos recursos previstos na legislação.
Fontes; pesquisas virtuais.
Paulo Dirceu Dias
paulodias@pdias.com.br
Sorocaba – SP
11/09/2025