Cidadania Civilidade e Respeito ao Próximo

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É inconcebível e revoltante que, em pleno século XXI, com Constituição consolidada, instituições reconhecidas e sociedade civil cada vez mais consciente de seus direitos e deveres, ainda haja espaço, e até protagonismo, para agentes públicos e figuras influentes que atentam contra os fundamentos mais básicos da convivência democrática.

Enquanto milhões de brasileiros vivem cotidianamente com civilidade, respeito ao próximo, responsabilidade social e respeito às leis, é estarrecedor observar o crescimento de discursos autoritários, a desinformação deliberada e a tentativa constante de deslegitimar os Três Poderes da República.

O texto que segue demonstra necessária contraposição entre exemplos de grandeza moral e cívica, e a perigosa ascensão de posturas revisionistas, antidemocráticas e corrosivas à integridade institucional do país.

É urgente valorizar os que constroem, e denunciar os que ameaçam.

Inicialmente seguem exemplos de personalidades de destaque que fizeram declarações exaltando valores como civilidade, respeito à legislação, à convivência pacífica e reconhecimento dos poderes constitucionais, em princípios que refletem o cenário cotidiano de harmonia descrito no seu texto.

Dom Hélder Câmara – Bispo católico e grande defensor dos direitos humanos durante a ditadura militar, Dom Hélder pregava uma “não‑violência ativa” e uma postura de serviço aos mais pobres, reafirmando a importância da justiça social e do respeito ao próximo como prática de cidadania.

Simone Tebet (MDB‑MS)Senadora e jurista (falas no Senado Federal) – Em discurso no Senado, ela destacou que “sem um Parlamento independente, sem um direito criado de forma legítima, nós não teríamos possibilidade sequer de os outros Poderes atuarem com igual legitimidade”, reforçando a independência e harmonia entre Legislativo, Executivo e Judiciário como base da paz social.

Djamila Ribeiro – Filósofa e ativista dos direitos humanos, Djamila promove amplamente o respeito aos direitos sociais, à igualdade e à cidadania plural. Como primeira brasileira a falar em evento da ONU sobre a abolição da escravidão, ela representa a ideia de convivência democrática respeitosa.

Debora Silva Maria – Fundadora do movimento Mães de Maio, que denuncia violência policial e briga pela justiça com base no respeito à vida e aos direitos fundamentais. Suas ações demonstram compromisso com os princípios constitucionais e a convivência ética na coletividade.

Inez Lemos (psicanalista) – De acordo com ela, conceitos como ética, solidariedade e respeito ao outro são base para uma verdadeira cidadania ativa. “Cidadania não se ensina mais nas escolas… poucas famílias educam visando instituir um sujeito com consciência social”, disse ela ao enfatizar a responsabilidade individual por uma convivência comunitária saudável.

Tancredo Neves (ex-presidente eleito) – “A cidadania não é atitude passiva, mas ação permanente, em favor da comunidade.”, reforçando que viver a cidadania é participar ativamente, estendendo-se além das eleições.

Ulysses Guimarães (presidente da Assembleia Constituinte de 1987–88) – No discurso que culminou na promulgação da Constituição de 1988:

  • “A Nação quer mudar. A Nação deve mudar. A Nação vai mudar.”
  • “A cidadania começa com o alfabeto” — destacando que inclusão, educação e fortalecimento da democracia caminham juntos.

Rodrigo Maia (ex-presidente da Câmara) – Criar tensão institucional não ajuda o país a evoluir. Autoridades devem dar o exemplo de respeito às instituições e à ordem constitucional.

Dias Toffoli (ministro e ex-presidente do STF) – Não existe democracia sem um Parlamento atuante, um Judiciário independente e um Executivo legitimado pelo voto, convivência harmônica entre todos constrói uma grande nação.

Wálter Maierovitch – Jurista e colunista de Justiça e Cidadania, destaca a importância da legalidade como expressão de respeito à sociedade, na linha de frente pela cidadania.

Clèmerson Merlin Clève – Professor e constitucionalista da UFPR, conhecido por reforçar que a autoridade constitucional e atuação jurídica são pilares para garantir igualdade perante a lei.

Marília Muricy – Filósofa do direito, afirmou que Não se pode abdicar da norma jurídica, sob pena de, em nome de bons propósitos, substituir um arbítrio por outro arbítrio, ressaltando que legalidade e ética estruturam a convivência democrática.

Anísio Teixeira – Referência histórica na educação pública e democracia no país, declara que transformação social só ocorre com educação, mostrando a centralidade da formação cidadã para sociedades saudáveis.

Marielle Franco – Ativista pelos direitos humanos e igualdade, deixou registrada mensagem clara: “A luta por direitos não é questão de caridade, mas de justiça.” — entendendo que cidadania exige compromisso com justiça e pluralidade.

Educadores e filósofos da cidadania – Filósofos e ex-secretários de Educação, pontuam que muita gente acha que política é uma coisa e cidadania é outra, como garfo e faca, e não é. Política e cidadania significam a mesma coisa, ensinando que envolvimento político e cidadania ativa são considerados essenciais.

Seguem pensadores estrangeiros que inspiram a cidadania ativa – Embora de figuras estrangeiras, amplamente citadas, algumas frases refletem princípios universais compartilhados aqui.

Kennedy (EUA) – “Não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por seu país.”

Martin Luther King Jr – “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas sim o silêncio dos bons.” sublinhando a responsabilidade ativa de cada cidadão.

George Washington – “A verdadeira administração da justiça é o pilar mais firme de um bom governo.”

Em síntese, as figuras públicas aqui reunidas, atuando em campos diversos como religião, ativismo, política, filosofia e psicologia social, representam, cada uma a seu modo, compromisso inequívoco com os princípios que sustentam sociedade civilizada: o respeito mútuo, a obediência às leis, a valorização das instituições democráticas e a convivência harmônica. Suas declarações e atitudes se erguem como faróis éticos e inspiradores, exemplares da conduta cidadã que dignifica a vida em coletividade.

Porém, no extremo oposto surge grupo cada vez mais visível e influente de personalidades que, por palavras e ações, afrontam esses mesmos princípios.

São vozes que desqualificam o pacto social, atacam abertamente os Três Poderes, propagam desinformação, distorcem a história e alimentam narrativas autoritárias.

Ao contrário de contribuir para a construção de nação justa e democrática, tornam-se símbolos do retrocesso institucional e da erosão da civilidade.

Seguem exemplos que produzem indignação.

Jair Bolsonaro (ex-presidente, atualmente figura ativa da oposição) – “Uma eleição sem minha participação não seria democrática.”, afirmou em Copacabana, ligando o reconhecimento das eleições à sua presença. Atualmente inelegível para cargo públicos, por condenação no TSE – Tribunal Superior Eleitoral, também lidera articulações por lei de anistia para apoiadores de atos golpistas ocorridos em Brasília e, principalmente, para si próprio. Ainda enfrenta processos no STF, por acusação de tentativa de golpe de Estado, participação em organização criminosa armada e destruição das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.

Eduardo Bolsonaro (Deputado federal licenciado) – Atualmente residindo nos EUA, além de ter declarado que “se alguém quiser fechar o STF, basta um cabo e um soldado”, o que já expõe postura militarista explícita, ele vem atuando ativamente no exterior para pressionar autoridades dos Estados Unidos a impor sanções contra o Brasil. Desde março de 2025, Eduardo se licenciou do mandato e se mudou para os EUA com o objetivo declarado de articular medidas punitivas contra ministros do STF, como Alexandre de Moraes, e autoridades da Polícia Federal e da PGR.

  • Esse esforço culminou em sanções reais: o governo Trump aplicou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e sancionou um juiz do Supremo sob a Lei Magnitsky, medidas amplamente vistas como retaliação política, coordenadas e endossadas por Eduardo Bolsonaro, que celebrou essas ações publicamente.
  • Além disso, a Polícia Federal identificou que cerca de R$ 2 milhões foram enviados por Jair Bolsonaro a Eduardo precisamente para financiar esse tipo de lobby externo e tentativa de interferência nos processos judiciais brasileiros, reforçando o caráter conspiratório e lesivo dessas ações à soberania nacional.
  • O próprio STF, por meio do ministro Alexandre de Moraes, abriu inquérito para apurar crimes, como obstrução de justiça, coação e tentativa de abolir o Estado Democrático de Direito, justamente por causa do comportamento de Eduardo nos EUA.
  • Quando confrontado, imediatamente Eduardo se declarou “perseguido político” e prometeu solicitar asilo nos EUA, enquanto acusou sem provas o STF e o sistema judiciário brasileiro de estarem promovendo uma “ditadura” no país, em discursos que beiram o cinismo diante de suas ações comprovadamente alinhadas à deslegitimação institucional.

Paulo Guedes (ex-ministro da Economia) – “Não se assustem se alguém pedir o AI‑5.”, fazendo referência ameaçadora ao endurecimento autoritário, mencionando o AI‑5 da ditadura militar. Embora tenha descartado a ideia, causou forte reação nas instituições.

Renan Calheiros (senador, ex-presidente do Senado) – Criticou duramente o ministro Alexandre de Moraes, chamando-o de “juizeco” e “chefete de polícia”, ao subestimar a autoridade do Judiciário. Suas motivações sempre defenderam suspeitas intenções autoritárias.

Fundadores e apoiadores do bolsonarismo – Paulo Guedes e membros do governo na época fizeram declarações que admitem ou romantizam ações autoritárias. Institutos associados ao Opus Dei, como o IBDR, apoiaram indicações de cargos alinhados ao projeto ideológico e contestam normas democráticas.

Movimentos ideológicos ligados à extrema-direita – Analistas apontam que tais grupos têm buscado “erosão das instituições democráticas”, uso de desinformação com objetivo de manipular a opinião pública e deslegitimar o sistema eleitoral.

Tarcísio de Freitas (governador de São Paulo) –  Aderiu publicamente a manifestações por anistia para condenados pelo 8 de janeiro e criticou o Supremo, enquanto ainda importa seu pulso autoritário ao associar-se a apoio bolsonarista. Apesar disso, em outra ocasião afirmou ser “o Brasil referência” no funcionamento da Justiça Eleitoral, contradizendo o discurso de seus aliados .

Felício Ramuth (vice-governador de São Paulo) – Adotou discurso bolsonarista ao negar que os ataques de 8 de janeiro configuraram tentativa de golpe e criticou as penas impostas aos envolvidos, alinhando-se com narrativas revisionistas.

Cleitinho (senador, Minas Gerais) – Critica o discurso do “nós contra eles”, mas atribui os verdadeiros problemas do país aos Três Poderes, sugerindo que esses são os responsáveis pela divisão social, em tom que pode deslegitimar institucionalidade e instigar desconfiança.

Romeu Zema (governador de Minas Gerais) – Sugeriu que chamar o período da ditadura militar de regime autoritário é uma questão de “interpretação”, em postura revisionista que minimiza gravidade histórica e pode legitimar narrativas autoritárias contemporâneas.

Marcio Bittar (senador, União–AC) – Afirma que o Brasil estaria se aproximando de regimes autoritários, e defende apoio internacional, como a declaração de Donald Trump, como reconhecimento desse movimento, com críticas severas ao sistema democrático vigente.

Pablo Marçal (“coach” e pré-candidato a prefeito de SP) – Condenado por abuso de poder político e econômico, uso de desinformação e propagação de discurso tóxico contra adversários, com atuação direta em rede e direcionada a favorecer agendas autoritárias.

Allan dos Santos (ativista digital) – Conhecido por propagação sistemática de desinformação, defende o fim de instituições democráticas, fechamento do STF e intervenção militar, condutas que, segundo a Polícia Federal, configuram organização criminosa e ameaça direta à democracia.

Conclusão – Essas personalidades encarnam vertente autoritária e revisionista que, sob diferentes formas, seja pelo discurso inflamado, pela mobilização política ou pelo uso estratégico das redes digitais, colocam em xeque os fundamentos da institucionalidade democrática, desprezando abertamente valores como civilidade, legalidade e respeito às estruturas republicanas.

Quando expostos, investigados e responsabilizados por suas condutas, muitas vezes amplamente documentadas e juridicamente tipificadas, não hesitam em se vestir da falsa toga de “inocentes perseguidos políticos”, em tentativa cínica de inverter os papéis entre agressores e vítimas do Estado Democrático de Direito.

Tais atitudes não apenas contrastam com os exemplos de grandeza cívica apresentados, como também representam grave ameaça ao pacto social e à estabilidade das instituições.

Em momento histórico que exige lucidez, coragem moral e firmeza democrática, é fundamental saber quem está a serviço da construção e quem age sistematicamente para corroê-la.

Fontes; pesquisas virtuais.

Paulo Dirceu Dias
paulodias@pdias.com.br
Sorocaba – SP
02/08/2025

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