Santos Dumont 150 Anos – Histórias

Compartilhar

Celebrando 150 anos de nascimento de Alberto Santos Dumont, segue versão das aventuras e desventuras do inventor brasileiro.

Infância e Juventude (1873–c.1890)

  • 20 de julho de 1873 – Nasce na Fazenda Cabangu, João Gomes–MG, filho de Henrique Dumont, engenheiro e fazendeiro rico, e Francisca Santos Dumont.
  • Leitor de Júlio Verne, cresce curioso, cedo proferindo sua famosa resposta: “Homem voa?”, bravamente afirmando “Sim!”, para espanto dos colegas, um presságio de sua vida.

Paris: Estudos e Balonismo (c.1890–1901)

  • Aos 18 anos muda-se para Paris, onde estuda física, eletricidade e mecânica.
  • Em 1898, lança o balão Brasil (seda, hidrogênio, 6 m), que sobe, mas não voa por falta de vento.
  • Logo depois, projeta o balão América, transportando passageiros e permanecendo em voo por quase 24 horas, vencendo competição do Aeroclube da França .

Dirigíveis e Coragem sob o Céu (1898–1901)

  • Ainda em 1898–1899, desenvolve dirigíveis numerados, do No. 1 ao No. 3, que enfrentam quedas nas primeiras tentativas.
  • Cria o primeiro hangar-oficina para suas máquinas.
  • Com o Dirigível No. 5 quase se afoga, ficando pendurado a 20 m após colidir com o hotel Trocadéro, em 8 de agosto de 1901.
  • No No. 6, em 19 de outubro de 1901 contorna a Torre Eiffel e retorna ao ponto de partida em menos de 30 minutos, ganhando o Prêmio Deutsch e 100 mil francos, que doa a operários e aos pobres.

Voos Mais Pesados que o Ar: O 14-Bis (1906–1907)

  • Em 1906, constrói o 14-Bis, aeronave canard, feita de bambu, papel de seda, madeira, metal e motor náutico de 50 CV, apelidada de “Ave de rapina”.

Após saltos iniciais, em 23 de outubro realiza voo homologado de (±) 60 m a 2–3 m de altura. No 12 de novembro, voa 220 m reconhecidos pela FAI.

Sofre acidente em 4 de abril de 1907 e desiste do 14-Bis, aproveitando peças para novos projetos.

Experimentações, Demoiselle e Inovação (1907–1910)

  • Segue com aviões-híbridos, N-15 a N-19, com vários acidentes e o fim de cada tentativa.
  • Em 1909, o ultraleve Demoiselle alcança 96 km/h, voos de 2 500 m a 20 m de altura, e torna-se o primeiro avião fabricado em série ((±) 40 unidades).
  • Em 4 de janeiro de 1910, sofre acidente no Demoiselle Nº 22, com ferimentos leves abandona definitivamente os voos.

Vida Pessoal, Reflexões e Retirada (1910–1932)

  • Publica dois volumes autobiográficos: Dans L’air (1904) e O Que Eu Vi, O Que Nós Veremos (1918) .
  • Em 1918 instala-se em Petrópolis, na Casa “Encantada”, que projetou com soluções práticas; mesa-cama, escadas em forma de raquete e chuveiro quente.
  • Cria o relógio de pulso, com Cartier, para poder cronometrar voos sem largar o equipamento .
  • É eleito para a ABL em 1931, mas não chega a tomar posse.

Tragédia: Acidente no Retorno e Morte (1928–1932)

  • Em 3 de dezembro de 1928, retorna ao Brasil e presencia desastre aéreo, batizado Dornier Wal, com muitas vítimas; profundamente abalado, retorna à França.
  • Em 23 de julho de 1932, com depressão e esclerose múltipla, comete suicídio no Guarujá aos 59 anos. Seu coração foi preservado no Museu Aeroespacial; seu túmulo ornamentado por estátua de Ícaro permanece no Rio.

Legado e Disputa Histórica

  • Sua abordagem de não patentear as invenções tornou suas criações acessíveis publicamente e marcou o caráter colaborativo da aviação.
  • No Brasil, Santos Dumont é celebrado como o “Pai da Aviação”, valorizado por ter realizado o primeiro voo público e autônomo, sem catapulta, enquanto os irmãos Wright são mais reconhecidos internacionalmente.

Sobre Santos Dumont e os irmãos Wright, conheça:

SANTOS DUMONT OU IRMÃOS WRIGHT?
INCOMPREENSÍVEL E INJUSTA POLÊMICA

Segue versão com foco técnico no Demoiselle, nos acidentes e na dimensão pessoal e filosófica de Alberto Santos-Dumont, com narrativas mais detalhada.

1. Desenvolvimento Técnico do Demoiselle (1907–1910)

Versões e Estrutura

  • A partir do Demoiselle Nº 19 (novembro de 1907), Santos-Dumont desenvolveu monoplano ultraleve, com estrutura de bambu, coberta de seda envernizada, com motor Dutheil-Chalmers (20 hp), pesando apenas (±) 56 kg, com envergadura de (±) 5,1 m.
  • Os primeiros voos, iniciados em novembro de 1907, demonstraram “estabilidade, fácil pilotagem e excelente manobrabilidade”, embora o aeródromo limitado tenha interrompido o voo após cerca de 200 metros.

Aperfeiçoamentos e Modelos Posteriores

  • Surgem então os modelos Nº 20 a 22, com estrutura triangular mais rígida, motor Darracq de até 30 hp, envergadura aumentada (±) 5,5 m e peso total de cerca de 110–118 kg.
  • O design integrava radiadores sob as asas para melhorar aerodinâmica e controle lateral via wing warping, ativado por volante acoplado ao colete do piloto.

Difusão e Legado

  • Santos-Dumont publicou os planos abertamente: o Popular Mechanics (jun–jul 1910) trouxe instruções de construção. A empresa Clément-Bayard produziu cerca de 50 unidades e vendeu 15 aviões, tornando o Demoiselle o primeiro avião produzido em série.
  • Foi considerado acessível, veloz e ideal para treinamentos, “o melhor modelo criado por Santos-Dumont” e uma verdadeira obra-prima da aviação leve.

2. Acidentes e Finais de Carreira (1906–1910)

14-Bis e Pós-14-Bis

  • O 14-Bis sofreu acidente em 4 de abril de 1907, após voos iniciais notáveis, levando ao abandono do projeto para redirecionamento das peças em outras criações.

Demoiselle: Quedas e Últimos Voos

  • O Demoiselle também teve falhas estruturais: o modelo VII capotou em novembro de 1909, e o VIII teve uma asa rompida, resultando em uma queda de cerca de 30 metros em 4 de janeiro de 1910. Santos-Dumont escapou com leve contusão na cabeça, mas decidiu encerrar sua carreira como piloto.

3. Vida Pessoal, Filosofia e Trágico Desfecho

Relógio de Pulso e Cotidiano

  • Em 1904, em inédita criação pediu a Louis Cartier um relógio de pulso para cronometrar voos sem largar os comandos. Originou o icônico “Santos de Cartier”, que evoluiu para uma das linhas mais marcantes da marca.

Ideais e Difusão Aberta

  • Santos-Dumont acreditava que a aviação deveria ser uma herança coletiva e não comercial. Refletiu isso ao não patentear suas criações e lutar judicialmente para manter seu motor aberto ao domínio público, gesto considerado por alguns “o primeiro software livre do mundo”.

Doença, Depressão e Morte

  • Diagnosticado com esclerose múltipla em 1910, enfrentou fraqueza progressiva e profunda depressão, especialmente ao ver a aviação ser usada para fins militares.
  • Em 23 de julho de 1932, suicidou-se no Guarujá, aos 59 anos, sendo sua morte atribuída a um trágico desfecho de suas convicções e sofrimento.

Segue versão concisa e aprofundada, especialmente sobre o wing warping, a filosofia da recusa à patente e aspectos pessoais de Santos-Dumont.

Wing Warping: Controle Lateral no Demoiselle

  • O Demoiselle empregava sistema de controle lateral por wing warping; cabos conectados às costas do piloto torciam as extremidades das asas conforme sua inclinação, aumentando sustentação de um lado e reduzindo do outro, movendo a aeronave lateralmente (rolagem).
  • No modelo Nº 20, o sistema era simples e assimétrico: cabos puxavam para baixo apenas a borda traseira externa da asa, sem capacidade de torção para cima, o que limitava parcialmente o controle.
  • Apesar da funcionalidade, o mecanismo exigia coordenação corporal excepcional: o piloto controlava arfagem e guinada manualmente, o acelerador com o pé, e a rolagem apenas com movimento corporal, em método pouco intuitivo, mas eficaz sob os comandos de Santos-Dumont.

Filosofia: Abertura ao invés de Patentes

  • Firmemente Santos-Dumont recusou patentes, acreditando que suas criações deveriam servir à humanidade, não à riqueza ou exclusividade. Ele dizia que mantinha seus direitos abertos “porque tem que dar chance para outras pessoas poderem pesquisar e desenvolver o avião”.
  • Em disputa com o fabricante do motor Darracq, que desejava patentear o motor do Demoiselle, Santos-Dumont combateu legalmente, e venceu, impedindo a concessão da patente e mantendo a tecnologia disponível para todos.
  • Ele descreveu sua abordagem como altruísta, comparável ao ideal de Henry Ford com o modelo T; democratizar tecnologia, não monopolizá-la.
  • O historiador Maurício Inácio da Silva relatou que, com essa postura, Santos-Dumont buscava “melhor conforto e melhor meio de vida para a população”.

Dimensão Pessoal: Cartas, Crenças e Declínio

  • Em 1918, em suas memórias “O que vi e o que veremos”, ele escreveu:

“O gênio é uma grande paciência; sem pretender ser gênio, teimei em ser um grande paciente. As invenções são, sobretudo, o resultado de um trabalho teimoso.”
Isso revela seu espírito perseverante, inspirado também em Júlio Verne, a “fantasia real” que ele via na literatura.

  • Uma carta, de antigo amigo comunal a sua juventude de brincadeiras com “Homem voa?”, dizia:

“(…) o Senhor Deutsch paga-a por você. Você tinha razão em levantar o dedo.” Esse resgate emotivo materializa a infância visionária que culminou em sua vitória sobre a Torre Eiffel.

  • Quanto à saúde mental, o diagnóstico de esclerose múltipla foi contestado. Pesquisas sugerem que ele enfrentou transtorno depressivo ou até transtorno bipolar, agravado pela invasão militar de seu invento “(…) não imaginei que causaria derramamento de sangue entre irmãos”.
  • Seu suicídio no dia 23 de julho de 1932, no Guarujá, foi marcado pela angústia de ver a aviação usada em conflitos internos, algo que o apavorava profundamente.
  • Após sua morte, o ato foi encoberto. Seu coração foi removido clandestinamente e depois preservado pela FAB; só anos depois foi oficialmente aceito que se tratava de suicídio, não de causas naturais.

Fontes; pesquisas virtuais.

Paulo Dirceu Dias
paulodias@pdias.com.br
Sorocaba – SP
11/08/2025

Compartilhar