Zooplâncton – Auxiliar na Segurança Climática

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ZOOPLÂNCTON – MICRO-ANIMAIS ESSENCIAIS NA REGULAÇÃO DO CLIMA PLANETÁRIO

Zooplâncton é o nome dado a vasta e diversificada comunidade de organismos animais microscópicos, ou quase, que vivem em suspensão na coluna d’água dos oceanos, mares, lagos e rios.

Ao contrário do fitoplâncton, que realiza fotossíntese, o zooplâncton é heterotrófico, ou seja, se alimenta de matéria orgânica, especialmente de fitoplâncton.

Esse grupo inclui protozoários, pequenos crustáceos, como os copépodes, larvas de moluscos, peixes e outros invertebrados. Com tamanhos variando entre frações de milímetro e poucos centímetros, esses organismos desempenham papel fundamental tanto na cadeia alimentar marinha quanto no ciclo global do carbono.

Origem e papel ecológico

Com registros evolutivos que remontam a centenas de milhões de anos, o zooplâncton ocupa posição-chave nos ecossistemas aquáticos. Alimenta peixes, aves e mamíferos marinhos, e, ao mesmo tempo, atua como elo vital nos processos de circulação e retenção de nutrientes nos oceanos.

Como o zooplâncton ajuda a reduzir o aquecimento global

Pesquisas recentes demonstraram que o zooplâncton colabora significativamente com a regulação do clima terrestre por meio de um mecanismo natural chamado “bomba biológica de carbono”, mais precisamente, uma de suas variantes: a bomba de migração vertical sazonal.

Esse processo envolve as etapas seguintes

  1. Acúmulo de carbono via alimentação: na primavera e verão, os zooplâncton, especialmente os copépodes, sobem para a superfície do oceano para se alimentar intensamente de fitoplâncton, que absorve dióxido de carbono (CO₂) da atmosfera através da fotossíntese. Essa matéria orgânica é convertida em gordura, armazenada no corpo dos animais.
  2. Migração para águas profundas: no inverno, esses organismos migram para grandes profundidades, entre 500 metros e 2 quilômetros, onde permanecem dormentes ou com metabolismo extremamente reduzido, sobrevivendo do consumo lento da gordura corporal.
  3. Sequestro de carbono: como essa gordura contém o carbono absorvido na superfície, o processo de metabolização em águas profundas retarda enormemente o retorno do CO₂ para a atmosfera. Parte dele permanece retido no oceano por décadas ou até séculos, reduzindo a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera.
  4. Afundamento de resíduos: além da própria migração, o zooplâncton contribui para o transporte de carbono através da liberação de pellets fecais densos, que afundam levando consigo carbono orgânico até o leito marinho.

Impacto climático em números

De acordo com estudo recente conduzido por Guang Yang – Academia Chinesa de Ciências – e Jennifer Freer – British Antarctic Survey -, publicado na revista Limnology and Oceanography, estima-se que o zooplâncton transporte, anualmente, cerca de 65 milhões de toneladas de carbono para águas profundas, o equivalente às emissões de 55 milhões de carros a diesel por ano, segundo a EPA – Agência de Proteção Ambiental dos EUA.

A maior parte desse transporte é realizada pelos copépodes, seguidos por krill e salpas.

Importância global dos oceanos

Os oceanos, de modo geral, absorvem cerca de 90% do excesso de calor gerado por atividades humanas, sendo o Oceano Antártico responsável por aproximadamente 40% dessa absorção térmica.

O papel do zooplâncton nesse processo é determinante e, até recentemente, subestimado nos modelos climáticos. Como afirmou o professor Angus Atkinson – Laboratório Marinho de Plymouth -, sem esse processo biológico, os níveis de CO₂ atmosférico poderiam ser até o dobro dos atuais.

Ameaças ao zooplâncton

Apesar de sua importância, o zooplâncton está sob ameaça crescente. Os principais fatores de risco incluem:

  • Aquecimento das águas oceânicas, que pode desorganizar seus ciclos migratórios.
  • Acidificação dos oceanos, que compromete sua fisiologia.
  • Pesca industrial de krill, que retirou quase 500 mil toneladas em 2020, impactando diretamente a base da cadeia alimentar.
  • Poluição por microplásticos, que interfere em sua alimentação e reprodução.

A ciência por trás da descoberta

As descobertas mais recentes vieram de expedições ao Oceano Antártico, onde pesquisadores a bordo do navio Sir David Attenborough coletaram amostras de zooplâncton em águas profundas. Com equipamentos especializados e protocolos delicados, incluindo salas resfriadas a 3°C e luz vermelha para não perturbá-los, os cientistas analisaram em laboratório as reservas de gordura, os ciclos de migração e o conteúdo de carbono dos animais.

Conclusão

Embora minúsculos e discretos, os zooplâncton são verdadeiros agentes reguladores do clima global. Sua capacidade de capturar e sequestrar carbono no fundo dos oceanos é essencial para conter o ritmo do aquecimento global.

Proteger esses organismos e garantir a estabilidade de seus ecossistemas não é apenas uma questão de conservação marinha, mas de segurança climática planetária.

Plâncton: conjunto de organismos, animais e vegetais, que flutuam ou derivam passivamente nas águas, sem capacidade de nadar contra correntes.

Fitoplâncton: parte vegetal do plâncton, formado por microalgas e cianobactérias que fazem fotossíntese, sendo base da cadeia alimentar aquática.

Zooplâncton: parte animal do plâncton, formado por pequenos animais ou larvas, como copépodes, krill, protozoários, que se alimentam de fitoplâncton ou outros zooplânctons.

Dinoflagelados: grupo específico de organismos do fitoplâncton, alguns também podem ser mixotróficos, caracterizados por dois flagelos e, em certos casos, bioluminescência.

Esses grupos têm papéis distintos no ecossistema aquático, mas podem interagir diretamente.

Principais fontes

  • Arquivo “Animais Minúsculos Reduzem Aquecimento Global” (BBC/G1 – 26 jul. 2025)
  • Turner, J.T. (2015). Zooplankton fecal pellets, marine snow, and sinking phytoplankton blooms. Aquatic Microbial Ecology.
  • Steinberg, D.K., & Landry, M.R. (2017). Zooplankton and the ocean carbon cycle. Annual Review of Marine Science.
  • Revista Limnology and Oceanography
  • NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration)
  • EPA (Environmental Protection Agency – EUA)

Fontes; pesquisas virtuais.

Paulo Dirceu Dias
paulodias@pdias.com.br
Sorocaba – SP
27/07/2025

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