Acidente Boeing 737-800 e Embraer Legacy 600

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Acontecido em 29 de setembro de 2006, o acidente envolvendo o Boeing 737 800, no voo Gol 1907, e o Embraer Legacy 600, em voo de entrega aos EUA, é considerado uma das maiores tragédias aéreas da história do Brasil.

Foi caso emblemático, por envolver falhas humanas, técnicas e estruturais do sistema de controle de tráfego aéreo.

Segue relato baseado em dados técnicos oficiais e investigações concluídas, com os detalhes mais relevantes.

DADOS DO ACIDENTE

  • Data: 29 de setembro de 2006
  • Aeronave da Gol: Boeing 737‑800, prefixo PR‑GTD
  • Origem e destino: Manaus (AM) → Brasília (DF) → Rio de Janeiro (RJ)
  • Passageiros e tripulantes: 154 pessoas a bordo; todos morreram
  • Aeronave envolvida: Embraer Legacy 600, prefixo N600XL, voo de entrega aos EUA, com 7 ocupantes; todos sobreviveram

SEQUÊNCIA DOS ACONTECIMENTOS

  • O Embraer Legacy havia decolado de São José dos Campos (SP) com destino a Manaus, em fase inicial de entrega a cliente norte-americano.
  • O Boeing da Gol fazia voo regular, de Manaus para o Rio de Janeiro, com escala em Brasília.
  • O choque ocorreu em pleno voo, a 37 mil pés (11.300 metros), sobre a região do norte do Mato Grosso.
  • O Legacy, após a colisão, perdeu parte da asa esquerda e estabilizador, mas conseguiu pousar em segurança na base aérea da Serra do Cachimbo.
  • O Boeing, gravemente danificado, perdeu o controle e caiu em região de mata fechada, resultando na morte de todos a bordo.

CONCLUSÕES DAS INVESTIGAÇÕES

As investigações foram conduzidas pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos – CENIPA, e pela NTSB – National Transportation Safety Board, dos EUA. O relatório final foi publicado em dezembro de 2008, apontando os seguintes fatores:

1. Erro de controle de tráfego aéreo – ATC

  • O plano de voo original do Legacy previa altitudes escalonadas:
    Subida até 37 mil pés. Após Brasília, descida para 36 mil pés.
  • Contudo, os controladores autorizaram o Legacy a manter FL370 – 37 mil pés, mesmo após o ponto previsto para a descida.
  • Essa altitude coincidiu com a do Boeing da Gol, que voava na mesma aerovia – UYB, mas em sentido oposto, gerando conflito de tráfego frontal.

2. Transponder desligado e TCAS inoperante no Legacy

  • O transponder do Legacy ficou desligado por cerca de 58 minutos antes da colisão.
  • Sem transponder, o sistema de anticolisão TCAS ficou inativo em ambas as aeronaves, pois o TCAS depende do sinal do transponder da outra aeronave para funcionar.
  • Isso impediu alertas de colisão e manobras evasivas automáticas ou manuais.
  • A tripulação do Legacy não percebeu que o transponder estava desligado.

3. Falta de ação dos controladores e falhas na comunicação

  • Durante o período crítico, houve falhas de comunicação rádio entre o Legacy e os centros de controle, Brasília e Amazônico.
  • Os controladores não confirmaram nem detectaram a altitude incorreta do Legacy.
  • O centro Amazônico chegou a perder o contato radar com o Legacy, mas não tomou medidas para investigar ou corrigir o problema.

RESPONSABILIDADES DEFINIDAS

A investigação apontou contribuições múltiplas para o acidente, sem culpar exclusivamente um dos lados:

  • Tripulação do Legacy:
    • Não verificou o status do transponder durante o voo.
    • Não percebeu a ausência de comunicação rádio efetiva por longos períodos.
    • Não contestou ou confirmou as altitudes autorizadas.
  • Controladores de voo – CINDACTA 1 e CINDACTA 4:
    • Aprovaram plano de voo inadequado e não monitoraram a correção da altitude.
    • Não detectaram a perda de contato radar.
    • Não reagiram diante da ausência do TCAS no radar secundário.
  • Infraestrutura de controle:
    • Dependência excessiva do contato por rádio VHF, que falhava com frequência naquela região.
    • Ausência de procedimentos claros para perda de contato com aeronave.

CONSEQUÊNCIAS E REPERCUSSÕES

  • O acidente provocou crise no controle aéreo brasileiro, que culminou em uma greve branca de controladores e caos nos aeroportos nos meses seguintes.
  • A tragédia levou à revisão de normas de controle de tráfego aéreo, uso de TCAS, monitoramento de transponders e instrução de pilotos.
  • O episódio influenciou na adoção mais rígida de procedimentos sobre vigilância eletrônica, separação vertical e comunicação em regiões remotas.
  • O sistema brasileiro passou a utilizar com mais frequência radares secundários, monitoramento ADS-B e redundância de contato.
  • Os dois pilotos do Legacy chegaram a ser condenados no Brasil, em primeira instância, mas a sentença foi posteriormente revertida.

CONCLUSÃO

O acidente do voo Gol 1907 foi causado por uma cadeia de falhas humanas e operacionais, incluindo erro de altitude não corrigido, transponder desligado e falha no controle de tráfego.

Foi exemplo emblemático de que, mesmo com aeronaves modernas e voando em condições ideais, a aviação continua dependente da perfeita integração entre tripulação, sistemas de bordo e controle terrestre.

A tragédia expôs fragilidades do sistema brasileiro à época e trouxe importantes mudanças para a segurança aérea mundial.

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TRANSPONDER E TCAS – DETALHES

Fontes; pesquisas virtuais.

Paulo Dirceu Dias
paulodias@pdias.com.br
Sorocaba – SP
22/07/2025

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