As sondas Voyager 1 e Voyager 2, lançadas em 1977 pela NASA, protagonizaram uma das missões mais longas e científicas da história da exploração espacial. Desde então, ambas protagonizaram diversos acontecimentos atípicos, inesperados, surpreendentes ou curiosos, analisados tecnicamente com base em dados transmitidos à Terra.
Seguem os principais registros desses fatos reais e confirmados.
1. Entrada no Espaço Interestelar (2012 e 2018)
- Voyager 1: Confirmada a entrada no meio interestelar em 25 de agosto de 2012.
- Voyager 2: Atravessou a heliopausa em 5 de novembro de 2018.
- Avaliação científica: Atravessar a heliopausa, fronteira onde o vento solar já não domina o meio, foi marco inesperado na missão, já que as sondas foram projetadas para durar apenas cerca de 5 anos.
- Consequência: Pela primeira vez, instrumentos construídos por humanos passaram a registrar diretamente dados do espaço interestelar, como densidade de plasma e radiação cósmica galáctica.
2. Anomalias nos dados da Voyager 1 (2022–2024)
- Ocorrência: Em meados de 2022, a Voyager 1 começou a enviar dados científicos inconsistentes ou incompreensíveis, embora continuasse funcional. A falha estava associada ao sistema de articulação de dados de atitude – AACS.
- Surpresa: A sonda estava tecnicamente operante, mas mandava telemetria sem sentido.
- Diagnóstico e solução (2023): Engenheiros identificaram que o sistema havia começado a enviar dados através de um canal de computação obsoleto. Após comandos de correção, a transmissão voltou ao normal.
- Conclusão: Apesar dos 24 bilhões de quilômetros de distância e da idade do equipamento, foi possível reestabelecer parcialmente a funcionalidade. Isso demonstrou a robustez do design original.
- Consequência: A missão ganhou mais tempo de vida útil, mesmo em condições extremas.
3. Anomalia mais grave (2024–2025): Problemas de memória e comunicação
- Início do problema: Em dezembro de 2023, a Voyager 1 começou a enviar dados corrompidos e sem sentido, sobretudo do sistema FDS – Flight Data Subsystem, o cérebro da sonda.
- Ação e descoberta (abril de 2024): A NASA detectou que parte da memória do FDS estava corrompida, tornando impossível a reconstrução dos pacotes de dados.
- Março de 2025: Foi realizada uma manobra de reprogramação remota. A equipe conseguiu redirecionar os dados para uma parte da memória funcional, após enviar comandos que demoraram cerca de 22 horas para chegar à sonda e mais 22 para receber resposta.
- Resultado: A Voyager 1 voltou a enviar dados científicos legíveis.
- Conclusão: Um feito técnico impressionante, considerando que os engenheiros estavam lidando com uma sonda de quase 50 anos, operando em condições extremas e a mais de 24 bilhões de km da Terra.
4. Descobertas inesperadas no espaço interestelar
- Voyager 1 e 2 detectaram variações inesperadas na densidade de plasma e presença de ondas de choque no espaço interestelar, indicando que o Sol ainda influencia parcialmente essa região, mesmo após a heliopausa.
- Curiosidade: Essas variações ocorrem sem fontes visíveis próximas e sugerem que o meio interestelar é mais dinâmico do que se pensava.
- Estimativa futura: Cientistas acreditam que esses dados ajudarão na preparação de futuras sondas interestelares com mais instrumentos para estudar as fronteiras do Sistema Solar.
5. Alinhamento improvável e trajetória histórica (1977–1989)
- Fato curioso: As sondas Voyager aproveitaram um raro alinhamento dos planetas gigantes, que só ocorre a cada 176 anos. Esse evento permitiu que as sondas realizassem sobrevoos por Júpiter, Saturno (ambas), Urano e Netuno (Voyager 2), usando a gravidade para impulsionar suas trajetórias.
- Contribuição científica: Descobriram anéis em Júpiter, novos satélites em Saturno e Netuno, vulcanismo em Io, atmosfera densa em Titã e campos magnéticos complexos em Urano e Netuno.
- Consequência técnica: Mostraram o sucesso da técnica de assistência gravitacional e da exploração planetária sequencial.
6. Longevidade inesperada
- Expectativa original de vida útil: 5 anos.
- Operando até hoje: Em 2025, ambas ainda emitem sinais.
- Motivo da sobrevida: Uso eficiente de energia elétrica e excelente qualidade dos materiais e sistemas redundantes.
- Limite previsto: Estima-se que, entre 2026 e 2030, a capacidade elétrica (gerada por RTGs) será insuficiente para manter os instrumentos principais funcionando.
7. O “disco dourado” das Voyagers
- Curiosidade filosófica: Ambas carregam um disco de ouro com sons e imagens da Terra, como saudações em 55 idiomas, sons naturais e músicas.
- Objetivo: Caso sejam interceptadas por inteligência extraterrestre no futuro distante, que contenham informações sobre nossa civilização.
- Consequência cultural: O disco dourado tornou-se um ícone da esperança humana na comunicação interestelar.
Resumo das previsões e estimativas atuais
- As sondas perderão funcionalidade científica total entre 2026 e 2030.
- Continuarão em trajetória rumo ao espaço interestelar profundo por milhões de anos.
- A Voyager 1 se dirige para a constelação de Ophiuchus, e a Voyager 2 para a de Pavo, sem destino de interceptação previsto.
Fontes; pesquisas virtuais.
Paulo Dirceu Dias
paulodias@pdias.com.br
Sorocaba – SP
09/07/2025