Ceará Exemplo Brasileiro na Alfabetização

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O Ceará se consolidou como referência nacional em alfabetização infantil.

Em 2025, segundo o Indicador Criança Alfabetizada (ICA), 85,3% das crianças do estado concluíram o 2º ano do ensino fundamental sabendo ler e escrever de forma autônoma. A taxa supera a meta nacional de 60% e está muito acima da média brasileira, de 59,2%.

Esse resultado não surgiu por acaso. É fruto de quase duas décadas de políticas públicas consistentes, iniciadas em Sobral em 2004, durante a gestão do então prefeito Cid Gomes, quando foram estabelecidas metas claras para alfabetização até os 7 anos, ampliados investimentos e criadas estratégias de monitoramento.

O município logo se destacou no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e inspirou a criação, pelo estado, do Programa de Alfabetização na Idade Certa (PAIC).

A experiência deu tão certo que foi replicada em outros estados, como Pernambuco e Piauí, e serviu de modelo para a formulação do Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, lançado em 2023 pelo Ministério da Educação.

O ponto-chave é a cooperação entre estado e municípios: o governo estadual centraliza avaliações, prepara material didático e oferece apoio técnico, enquanto os municípios executam as ações locais.

Um fator decisivo foi o investimento na formação docente

Professores do ensino fundamental passaram a receber capacitação continuada em práticas de alfabetização baseadas em evidências, métodos estruturados que privilegiam a consciência fonológica, o ensino explícito de correspondência grafema-fonema e o acompanhamento sistemático da aprendizagem.

Estudos recentes, como revisões do National Reading Panel e da Fundação Lemann, apontam que essas estratégias reduzem lacunas de leitura e escrita e aumentam significativamente as taxas de alfabetização precoce.

No Ceará, a cada bimestre, docentes participam de oficinas de atualização e recebem acompanhamento pedagógico para aprimorar práticas em sala.

Outro diferencial é a integração com as famílias. Escolas organizam grupos de pais em aplicativos de mensagens, incentivam cantinhos de leitura em casa e mantêm contato próximo com a comunidade. Essa rede de colaboração reforça o vínculo entre escola e família, ampliando as oportunidades de letramento das crianças.

Para incentivar gestores, o estado também adotou o ICMS Educacional, que destina parte do imposto aos municípios de acordo com a evolução nos indicadores de aprendizagem. Isso garante estímulo extra para prefeitos investirem na educação básica.

Os resultados são visíveis

Em Cruz, CE, por exemplo, a Escola Joaquim José Monteiro alcançou Ideb de 9,1 em 2021, o maior do país. Sua diretora, Deusiran Nascimento, relata que, ainda em agosto, quase todos os alunos do 2º ano já liam textos com autonomia, mesmo crianças transferidas de outras regiões com defasagem.

Apesar do avanço, desafios persistem. O foco do modelo é nas crianças matriculadas, mas ainda há o problema do analfabetismo funcional entre jovens e adultos. Segundo o IBGE (Censo 2022), 93% dos brasileiros acima de 15 anos sabem ler e escrever, mas 29% têm habilidades rudimentares de leitura e interpretação.

Como lembra Ivan Gontijo, da organização Todos Pela Educação, garantir alfabetização na idade certa é fundamental para que a trajetória escolar não seja marcada por dificuldades em todas as disciplinas.

O exemplo do Ceará mostra que a valorização da educação, a formação docente pautada por evidências e a cooperação entre estado, municípios, famílias e comunidade podem transformar realidades.

Mais que números, esse esforço prova que políticas bem estruturadas e continuidade administrativa podem romper ciclos de fracasso escolar e abrir novas perspectivas para gerações inteiras.

Fontes; pesquisas virtuais.

Paulo Dirceu Dias
paulodias@pdias.com.br
Sorocaba – SP
17/08/2025

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